quinta-feira, 5 de março de 2015

É Possível mimar um bebê?

Recebi o seguinte texto e compartilho-o com os leitores. O texto é a tradução de "Can You Spoil a Baby?" por Merrie-Ellen Wilcox.
Você vai mimar aquele bebê se o segurar todas as vezes que ele chora! Coloque o bebê no seu berço! Você dá colo demais para o bebê! Amamentando de novo? Ele vai ficar mimado.

      Quantos de nossos bem intencionados amigos, parentes e até mesmo estranhos não nos deram conselhos como estes? Em uma cultura que valoriza independência sobre quaisquer outras qualidades, mimar um bebê é tabu. Bebês mimados, dizem-nos, crescem crianças e adultos dependentes, manipulativos e geralmente pedantes.

      Mas agora, após décadas de pesquisas sobre o comportamento dos bebês, pesquisadores estão a desmistificar a sabedoria popular. A evidência é incrível: Não se consegue mimar um bebê. De fato, o que é comumente entendido como mimo – pegar seu bebê rapidamente assim que ele chora, segurá-lo, e amamentá-lo a demanda, por exemplo, na verdade alimenta a independência dele ao assegurar ao bebê que o mundo é um lugar seguro, no qual ele pode confiar. Esta sensação de segurança, segundo Dr. Klaus Minde, diretor do departamento de psiquiatria do Montreal Children’s Hospital, dará à criança em desenvolvimento confiança para enfrentar o mundo com independência.

      Um bebê que chora não é “mau”, “manipulativo” ou “difícil”, apenas normal. Como qualquer outro ser humano, ele necessita de alimento quando está com fome, de companhia quando está sozinho, estímulo quando entediado, e conforto quando está com dor, tristeza ou estressado. Embora crianças mais velhas e adultos possam agir com certo nível cognitivo, pensando sobre o que querem e como consegui-lo, bebês agem em um nível mais responsivo e seu comportamento reflete necessidades físicas e emocionais imediatas. O choro é a única forma de comunicação para muitas destas necessidades. Como o Dr. Minde diz, “o choro é a único veículo que o bebê dispõe para pedir ajuda.”, “Não está realizado numa tentativa de manipular ou controlar a casa”, e a única resposta adequada ao choro de um bebê é “ir a ele e descobrir o que ele precisa”.
      
      Segundo Brenda Hann, terapeuta infantil no Infant and Toddler family Intervention Programme the West End Crèche em Toronto, um bebê cujas necessidades não são respondidas não desenvolve um instinto de confiança básica no seu ambiente e terá dificuldade em formar laços seguros às pessoas à sua volta. É provável que este bebê também sinta mais ansiedade para desenvolver mecanismos para defender-se dos sentimentos de rejeição, como busca de atenção e afetividade em fases mais tardias.

      Apenas quando uma criança começa a desenvolver um entendimento claro de causa e efeito e das dinâmicas da vida familiar (mais ou menos a partir dos 9 a 12 meses de idade) que os mimos podem se tornar um problema. A partir de então, os pais devem diferenciar entre um choro que exige uma resposta imediata e choro que exige outras respostas, como tempo para que a criança acalme-se por si mesma.

      Segundo Hann, é aqui que os limites tornam-se importantes para desenvolver o senso de segurança da criança, como uma resposta confiável no primeiro ano. Nos segundo e terceiro anos de vida, a criança desenvolve seus próprios controles internos e aprende a manejar sua própria angústia. Limites criados através de rotinas, regras simples e alguns “nãos” bem colocados aumentam a confiança da criança de que o mundo é um local seguro e acolhedor. Sem limites, a criança mais provavelmente tornará-se insegura e ansiosa.

      E quanto aos conselhos não solicitados das avós, amigos e pessoas na fila do supermercado? Dr. Minde sugere que respondamos a estes avisos contra segurar um bebê que chora, por exemplo, simplesmente mencionando que hoje existe uma riqueza de teorias e estudos que dizem o contrário. (Diversos estudos mostram que quanto mais vezes o choro do bebê é respondido adequadamente pelos pais, menos ele chorará aos 18, 24 ou 36 meses) ou lembre à pessoa que oferece o conselho que cada bebê é único e você, pai ou mãe, sabe muito bem qual a resposta que ele precisa neste momento.

      Hann, que apesar de sua especialidade na área viu-se confusa devido aos avisos de não mimar sua filha, sugere que acolha-se conselhos em geral com parcimônia. “Ouça e siga seus próprios instintos”. Ao responder à sua criança, levando-se em conta a pessoa única que ela é e o que ela precisa, você a ajudará e a si mesma a desenvolver uma forma de intercomunicação pessoal e abrangente.


      Conforme você aprende a apreciar a singularidade de cada relação pai-filho, você ficará menos suscetível a oferecer conselhos não solicitados a outras mães e pais na fila do supermercado.

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